O nobre olhar do Rottweiler
O nome dele era Apolo. Tinha 2 meses quando seu dono o levou para casa. Por ser da raça Rottweiler, seu destino já estava traçado.
Apolo não teve permissão para ser filhote, pois André, o seu dono, queria um cachorro bravo, mesmo novinho, e faria de tudo para ensiná-lo a ser um cão feroz, destemido e assassino.
Desde que foi tirado da proteção de sua mãe, por sinal, uma bela e dócil Rottweiler, Apolo conheceu uma nova realidade e aprendeu desde cedo, que o ser humano pode ser cruel, muito cruel.
Os cachorros sempre confiam nas pessoas e assim aconteceu com aquele cãozinho. Quando chegou ao seu novo lar, Apolo cheirou cada cantinho daquela casa e olhou com carinho para o seu novo dono. Ele tinha o olhar nobre dos cães, mas André nem reparou nisso.
Precisava prepará-lo para a função que desempenharia em um futuro próximo. Não importava se naquele momento, ele era pequeno ou frágil. A partir daquele dia, seria um legítimo Rottweiler, mesmo que em miniatura.
André começou colocando pimenta na ração e se divertiu quando Apolo provou os primeiros grãos. Não tinha pena, era uma obsessão daquele homem frio e sem coração. O cachorro comia à força, por sentir muita fome.
Os próximos passos foram um ritual sangrento. Em vez de brincadeiras, Apolo era beliscado e socado todos os dias, até mostrar os dentes. E quando o fazia, André parava e o parabenizava. O cãozinho não tinha escolha, se não fizesse, continuaria apanhando e sendo maltratado.
O seu dono era um psicopata, igual a muitos que encontramos por aí. André comprou uma galinha e permitiu que Apolo a perseguisse. Chegou ao ponto de amarrá-la e estimular o cachorro a matá-la. Quando isso aconteceu, Apolo foi premiado com quilos de carne fresca e ganhou um carinho, pela primeira vez, desde que chegou naquela casa.
Depois de alguns meses, o grande dia se aproximava. André tinha apostado um valor alto com o dono de um Pitbull. Os dois cachorros brigariam e o que perdesse, provavelmente seria abandonado. Assim aconteceu com Apolo.
Depois da luta, André o levou até uma rua deserta e o empurrou do carro. Imaginou que perdeu o seu tempo, treinando-o para ser bravo e vencer todas as rinhas de cães.
Mas depois disso, a vida de André mudou. Ele foi acometido por uma grave doença, onde pouco a pouco se sentia mais fraco fisicamente. Alguns familiares davam assistência, mas na maior parte do tempo, ele ficava sozinho. Começou a lembrar do doce olhar de Apolo e de como o cachorro parecia gostar dele, mesmo depois de tudo que sofreu.
Um profundo arrependimento tomou conta do seu coração. Durante alguns dias, chorou lágrimas de sangue e pediu perdão a Deus por tudo que fez contra aquele ser indefeso.
Como a vida tem os seus caprichos, aconteceu o que ele jamais poderia imaginar: Apolo conseguiu voltar para casa, depois de semanas perdido. Chegou magrinho, cansado e com muito medo. André o recebeu de braços abertos e cuidou dele, como gostaria de ter cuidado, desde os primeiros dias, quando ele ainda era bem pequeno.
Para a surpresa de André, Apolo não tinha se tornado um cão bravo, pois antes de ser um Rottweiler, ele era apenas um cachorro. E os cães são todos iguais, independente da raça.
Ele apenas lambeu a mão de quem tanto o maltratou. André aprendeu uma importante lição: os cães são puros e amorosos. Não importa a raça, importa o carinho e o amor que recebem desde filhotes.
Alguém duvida? E ainda há quem diga que existem raças perigosas. Perigoso mesmo é o ser humano.